miércoles, 13 de agosto de 2025

GLORIA SOFÍA: Poesía Actual de Cabo Verde

 


Glória Sofia, poeta cabo-verdiana (n. 1985), atualmente residente nos Países Baixos. Graduada em Engenharia Ambiental pela Universidade dos Açores. Iniciou sua trajetória poética na infância. Seu primeiro livro de poemas, Poesia das Lágrimas, foi publicado em 2013. Desde então, sua obra tem figurado em diversas antologias internacionais e foi traduzida para mais de 15 idiomas.


Em ti
E quando o tempo
despetalar o relógio
Na estação que sobra
No sonho que perdura
Os gritos são substituídos
Pelos amargos e leve olhar
Os saltos são contidos
Pelos passos calmos
Certeiros e firmes
A fadiga abandona
O estômago
As ricas gargalhadas
Esquecem o coração
Todas as palavras
Todos os risos
Todas as tentativas
Estão perdidas
Em ti
Somente em ti,
Estou cheia de uma
Esperança vazia
Em ti meu amigo
Rosas mortas
Botão de rosas 
Perpetuou o rosto
Triste seco 
No chão branco e livre
Ainda tenho as tuas rosas
Doidas de esperanças
Mortas de amor
Essas rosas tuas
Simbolizam tantos enganos
Anseio tanto
Um amanhã
Que me possa perder
Perder-me de novos
Nos teus beijos doces
Vivo encontrada
Na fulgor da luz
Envelhecida pela
Saudade
Dos risos que amarramos
Dos abraços que escondemos
A paixão que permanece
Não são restos
É avassalador desesperador
A paixão procura
Nessa imensidão
Os teus traços
Tua voz
Teu sorriso
Mas o destino
Recusou que
Tivéssemos vivido
Lado a lado que nem
As rosas que quebraram
E entregaram-se
Aos túmulos de livros



Quero
Eu quero-te
Como um túnel
Que não cansa de escuro
Que não anseia pela luz
Quero-te como
Uma árvore que perde
As folhas coloridas
Na dança e na paciência
Quero-te como num dia
Triste que alegra-me
Quero as tuas mãos negras
Os teus braços peludos
Quero os teus beijos esquecidos
Nesses lábios pintado de música
Quero-te assim
Com este sorriso do universo
Este riso do vento
Ambos estamos tão sozinhos e juntos
Quero tudo o que não vivi contigo
Sentada no chocolate
Tomo banho de chá
Olho para janela
Que dia triste
Gosto da tristeza do dia
Não penso num poema
Não quero amar a poesia
Eu quero não querer-te
Eu quero não lembrar
Do que jamais esquecerei
Quero o teu perdão
Por amar-te neste desespero
Por queimar com a luz da depressão
Quero-te tanto que te deixo morrer
morrer nos meus sonhos
Faltou as nossas danças ridículas
Falou o meu pedido de noivado
Falou o cavalo branco e risos de amigos
Faltou o escuro no túnel
O jardim no buraco do peito
Faltou enterrar as rosas mortas
Faltou um último abraço
Que eu recusei
E perdi a voz na cinza
Faltou tanto o que quero
Porque a música disse:
“queres o trágico”.



Verdade
A verdade é um machado
Que poda todas as árvores
Joga as sombras da esperança
E faz a realidade reluzir
A verdade é um machado
Que corta o tronco forte
O sentimento que renasce
Mas nunca a raiz do amor
A verdade despede-se
E quando entrega-se é bonita
Mas não é incolor
A verdade tem uma dor fina
Que corta com a mesma intensidade
de um machado
Usa as palavras claras
Tão transparentes afiadas que dói
Mas ouvir a verdade
É como dar a luz
No meio das dores do vento
Sangues do sentimentos
Gritos do pensamento
Gemidos de fraqueza
Restaura o universo
Que tinha sido colidido
Nasce a raiz do amor
Que o machado de dor
Nunca conseguira cortar.